domingo, 31 de julho de 2011

O deficit americano e o melão do RN


Obama deveria agradecer ao Brasil todos os dias pelo dinheiro que o Governo brasileiro tem investido regularmente e de forma crescente em papéis (títulos da dívida pública). Mas, por outro lado, todos os dias os produtores de melão do Rio Grande do norte pedem que Obama nos dê uma "forcinha", em muito menor escala, mas no mesmo sentido e intensidade que o Governo brasileiro tem dado ao Banco Central daquele país.
De forma surpreendente é o Brasil hoje um dos maiores credores de títulos da dívida pública norte-americana. Já estamos investindo, ou seja, já enviamos para lá US 211,4 bilhões no acumulado até o mês de maio desse ano. Pouco? Aumentamos em apenas um ano nossas aplicações em mais de 30%, constatando que o Brasil é um dos países que mais acredita nessas aplicações, visto que em maio de 2010 tínhamos "apenas" US 161,5 bilhões ali aplicados: em doze meses aumentamos nossas aplicações em US 49,9 bilhões, equivalentes a mais de 1.000 vezes as exportações de melão do Estado.Quando comparamos esses números com o nosso comércio exterior a distância é exageradamente desproporcional, enquanto as cifras federais contam-se em bilhões de dólares, as cifras estaduais limitam-se a milhões de dólares: em 2010 o Rio Grande do Norte exportou US 45,7 milhões em melão, sendo praticamente todo direcionado para os países europeus tendo em vista existência de barreiras alfandegárias que oneram nosso produto na exportação para os Estados Unidos: no período de safra nacional, quando mais ninguém produz melão no mundo, exceto o Nordeste brasileiro, o importador norte-americano é sobretaxado, ou seja, perde toda competitividade se tentar comprar os produtos norte-riograndenses.Uma outra dúvida que fica é se precisamos realmente financiar os Estados Unidos. Ao comprarmos títulos dívida pública estamos financiando as contas estrangeiras. Mas, o que justificaria o Brasil ser o 5º maior credor mundial de títulos norte-americanos (ficamos atrás da China, de um bloco de países exportadores de petróleo, além do Japão e da Grã-Bretanha): mania de grandeza, aplicação financeira ou puro companheirismo? Os demais países investidores têm uma economia bem mais fortalecida do que a nossa e os seus respectivos PIBs permitem que os dólares que estão sobrando por lá se transformem em capital com retorno a médio e longo prazos nos Estados Unidos.Quando o Brasil envia esses dólares para o exterior certamente está pensando aplicar financeiramente em um país em que a credibilidade é uma das mais sólidas e ainda é a maior economia do mundo, enquanto a China não chega lá, claro; mas faltaria um complemento de outros argumentos que pudesse nos ilustrar melhor as razões e justificativas para que tanto dinheiro brasileiro seja canalizado constantemente para um país que, teoricamente, por ser o mais rico do mundo não precisaria ou não deveria precisar.Enquanto isso, e apesar de todos esses dólares, aqui no nosso Rio Grande do Norte sofremos o impacto direto de políticas comerciais externas protecionistas norte-americanas. Para exemplificar como isso atinge diretamente nossa economia, dois casos são emblemáticos: o camarão e o melão.O melão - e a nossa fruticultura tropical - não consegue concorrer com outros países do Continente pela diferença artificial de alíquotas que prejudicam a produção brasileira, visto que os Estados Unidos aplicam alíquotas de importação mais elevadas para o melão originário do Brasil. De acordo com os produtores da região de Mossoró, se não houvesse tais restrições, teríamos uma "outra Europa", ou seja, dobraríamos nossas vendas externas - em apenas um ano, já a partir da safra seguinte! A carcinicultura, que além da dificuldade cambial interna que afeta sensivelmente as exportações, sofre repetidamente com a ação antidumping promovida por produtores daquele país alegando preços "artificiais" na produção do RN e do Brasil; para complicar, há cerca de 100 dias foi renovada a ação antidumping por mais longos cinco anos, período que ficaremos forçosamente fora do mercado.Não seria hora de barganhar vantagens para o Brasil? Se estamos aplicando tanto dinheiro lá fora - repetindo, são US 211,4 bilhões - bem que poderíamos vincular esses recursos a algumas vantagens comerciais ou, no mínimo, a um equilíbrio mais natural dos aspectos econômicos. O Brasil agradeceria. E o Rio Grande do Norte agradeceria mais ainda, sobretudo se contemplasse a nossa carcinicultura e a nossa fruticultura. Ou você emprestaria dinheiro simplesmente por "emprestar", sem nenhuma negociação?

fonte: tribunadonorte

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