segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Cana avança no RN e mecanização está a todo vapor


A cada nova safra, um exército de mil homens (e mulheres) é recrutado para trabalhar nos canaviais da usina Vale Verde, em Baía Formosa, a segunda maior usina de açúcar e álcool do Rio Grande do Norte. Em todo o estado, o número de 'convocados' chega a oito mil. 'Soldados' que tem como arma o facão e como adversário um canavial extenso, que precisa ser queimado antes de receber os primeiros golpes. No final, não há vencedores. Homens e cana tombam, entregando o que tem de mais valioso: a energia. O recrutamento cai à medida que a mecanização avança. Enquanto isso, a produção sobe.
Enquanto o Rio Grande do Norte, que possui duas usinas e duas destilarias, espera colher 15% a mais de cana de açúcar nesta safra, a usina Vale Verde Baía Formosa, do Grupo Farias, pretende colher 40% a mais. A mecanização explica, em parte, o crescimento acima da média. Boa distribuição de chuvas, parcerias com fornecedores, aporte de recursos e ampliação da capacidade de moagem, que passou de 200 mil toneladas para 400 mil toneladas por ano, também justificam o incremento na produção, recorde desde que a usina passou a operar, há 37 anos.
Gerente agrícola das usinas Vale Verde Baía Formosa (RN) e Vale Verde Pedroza (PE), Arnaldo de Andrade Costa, lança um alerta: "apesar do incremento na produção, nem todo mundo ficará na usina". A Vale Verde Baía Formosa emprega 1,5 mil pessoas. No período de safra, o número aumenta 67% e o número de funcionários, entre fixos e temporários, sobe para 2,5 mil. O percentual deverá ficar cada vez menor. A atividade emprega 12 mil pessoas durante a safra no RN, entre fixos e temporários. O número cai para 4 mil na entressafra. "Com a mecanização, não haverá mais oscilações entre contratações e demissões", sentencia o gerente agrícola, há 20 anos na usina do Rio Grande do Norte.
A usina Vale Verde Baía Formosa já possui seis colheitadeiras - cada uma substitui até 80 cortadores de cana. Até outubro, deve receber mais seis. Arnaldo de Andrade acredita que, se continuar neste ritmo, a usina conseguirá mecanizar até 80% de sua colheita nos próximos quatro anos. "É uma tendência mundial". Em todo o mundo, patrões perceberam que "queimar a cana é queimar dinheiro", afirma Arnaldo. Além de garantir a qualidade da cana, a colheita mecanizada poupa a palha, que passa a ocupar espaço central na cadeia produtiva. Misturada ao bagaço, a palha começa a alimentar a termoelétrica erguida dentro da usina, integrando uma cadeia que se retroalimenta. O incremento de 40% na produção representa dois meses a mais de geração de energia, calcula Arnaldo de Andrade, gerente da usina. Mais uma prova de que na natureza, nada se perde; tudo se transforma, como já havia constatado o físico Lavoisier. A usina, que já foi a maior unidade industrial de álcool do Nordeste, começou a produzir açúcar há sete anos. Perdeu o posto, mas produz 400 mil litros de álcool e 12 mil sacos de açúcar. A proporção de açúcar e álcool varia de acordo com o mercado. Na safra atual, 60% da cana será transformado em açúcar e 40% em álcool. "O mercado do açúcar está remunerando melhor", justifica Arlindo Farias, vice-presidente do Grupo Farias e diretor das usinas Vale Verde Baía Formosa (RN) e Pedroza (PE). Ele ressalta, porém, que aumentar a produção de açúcar não significa diminuir a de álcool. "Dá para produzir álcool a partir do mel do açúcar", esclarece. No RN, 80% da cana é transformado em açúcar e 20%, em álcool. Boa parte da produção é consumida no estado. O restante é vendido no Ceará ou exportado, segundo Renato Lima, presidente da Associação dos Plantadores de Cana do RN. A safra encerra-se em fevereiro. O exército de cortadores voltará na seguinte. Só não se sabe até quando. Para Renato Lima, da Associação, a mecanização, que avança na usina Vale Verde Baía Formosa, é um caminho sem volta. "Existe uma lei que nos obriga a parar de queimar cana e mecanizar a colheita".Trabalho passa de geração em geração"Os pais não querem que os filhos cortem cana. Querem que os filhos trabalhem como operadores de máquinas". A frase de Arnaldo de Andrade Costa, gerente agrícola das usinas Vale Verde Baía Formosa e Vale Verde Pedroza, é personificada na figura de Severino Ferreira Barbosa, 48. Antes de ser contratado pela usina, Damião - apelido que lhe foi dado sem nenhuma razão aparente - foi vaqueiro. Aos 16 anos, começou a trabalhar como tratorista. Aprendeu o ofício com o pai e fez questão de repassar para o único filho, Alejandro Ferreira Barbosa, 19, também tratorista. O ofício é uma espécie de herança. O pai de Damião aprendeu a dirigir trator com o pai, que aprendeu com o pai. Damião vai ensinar o ofício para o neto. Mas também não quer que o menino seja tratorista. Nem muito menos cortador de cana. "Meu neto vai ser 'doutor'", diz apontando para o chefe, agrônomo. O menino tem apenas cinco meses, mas já carrega a responsabilidade de chegar onde ninguém na família conseguiu.Jacinto Barbosa Soares, 24, também faz parte de um novo grupo de trabalhadores. Entrou na usina há três anos, recebendo pouco mais de R$400 por mês. Começou no campo, como faz questão de dizer, e hoje fiscaliza os trabalhadores. Recebe pouco mais de R$800 pelo serviço. Com o salário, comprou casa e livrou-se do aluguel. Também voltou a estudar e já faz o segundo curso de informática. "Abandonei o primeiro curso antes de terminar e não recebi o diploma", justifica. O jovem, que antes trabalhava numa fazenda, arrancando toco, limpando mato, adubando a terra, tem um só objetivo: "crescer". Se depender da fé de Damião e do esforço de Jacinto, a nova geração será de doutores, e não mais de cortadores de cana.


fonte: tribunadonorte

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