sexta-feira, 23 de março de 2012

Preço do feijão dispara em Natal


A vendedora Socorro Araújo, 40, reduziu o consumo de feijão carioquinha nos últimos meses. E não se arrepende. Apenas no primeiro bimestre do ano, o preço do produto subiu mais de 30% em Natal, em relação a dezembro, segundo pesquisa recente do Procon Municipal. E o reajuste já chega a 68,3% em alguns casos.
Entre uma gôndola e outra de supermercado, é possível encontrar o quilo, que podia ser comprado por cerca de R$ 1,96, custando aproximadamente R$ 3,30 ou até mais do que isso: R$ 5,97, em uma determinada marca.
Consequência da alta, as vendas deste tipo de feijão caíram 43,2% no supermercado. A desaceleração foi sentida em vários estabelecimentos do setor, afirma Eugênio Medeiros, vice-presidente da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn). Em lojas de grãos, no comércio de rua, o preço chega a R$ 5.
CLIMA
Por trás do aumento do feijão está a situação climática adversa que incluiu seca em meados de 2011 e excesso de chuvas no final do ano, nos principais estados produtores. Com as turbulências, a área cultivada caiu no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, por exemplo. No país, houve redução em torno de 10,4%. "E isso representa 16,8% de quebra da produção", observa Luís Gonzaga, analista de Mercado de Produtos Agrícolas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Rio Grande do Norte. Como o RN importa praticamente todo o feijão que consome, sente o impacto nos preços, explica. "O feijão é sensível, mas tem um comportamento rápido. Se recupera rapidamente porque tem várias safras ao longo do ano (São 3 safras, além de outras de menor tamanho que não são consideradas para efeito de estatística). No início de abril, a segunda começará a ser colhida e a tendência é normalizar", diz Gonzaga.
A tendência, de acordo com o que estima, é que o reajuste nos preços perca força ao longo dos próximos 30 ou 40 dias. A segunda safra já foi plantada e não há previsão de perda. O Brasil deve produzir 1 milhão 384 mil toneladas de feijão, volume parecido com o do ano passado. Na terceira safra, a expectativa é de que haja crescimento de 14,7%.
Quanto ao feijão verde, cujo preço também subiu, Luís Gonzaga explica que a razão do aumento é outra. "O preço subiu porque estamos em plena entressafra". O feijão verde é praticamente todo produzido no RN. O quilo já é encontrado por R$ 6, R$ 7. "Com a chegada das chuvas, a tendência é que baixe também", observa o analista.
Enquanto a situação não se regulariza, consumidores adotam uma série de estratégias para garantir o feijão na mesa sem sair no prejuízo. Enquanto a vendedora Socorro Araújo substitui o feijão carioquinha pelo preto - mesmo a contragosto da família - a dona de casa Magali Fernandes, 40, opta pelos mercados de bairro. "Também fico de olho nas promoções", acrescenta. A dona de casa Ivanise Carvalho Lemos, 59, prefere comprar no atacado. Ao invés de levar cinco, seis quilos para casa, leva 30 e passa três meses sem comprar feijão.
Os supermercados, afirma Eugênio Medeiros, da Assurn, têm feito o possível para não repassar o reajuste integral para os clientes. "Não podemos repassar tudo, porque o impacto é grande", afirma. A saída, segundo ele, é ir segurando o preço, reduzindo a margem, até que a situação se regularize.
Gasto com o produto atinge 2º maior nível desde 2003
Dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que a disparada de preços do feijão em início de ano não foi exclusividade de 2012. O gasto mensal para comprar 4,5 Kg do produto em Natal, que em fevereiro deste ano foi de R$ 20,84, no mesmo período de 2008 chegou a R$ 26,33 - o maior em 10 anos.
Este ano, o gasto mensal atingiu o segundo maior patamar da série histórica. Em relação a janeiro, foi 23,17% maior e a segunda mais alta do Brasil, atrás apenas da registrada em Florianópolis (25,98%).
Segundo Luís Gonzaga, analista da Conab, a disparada em início de ano não é comum, mas, quando ocorre, está sempre relacionada a problemas climáticos que acabam comprometendo a safra.
Com uma produção incipiente de feijão carioquinha, que não chega a ser considerada nas estatísticas oficiais, o RN importa o produto de estados como Minas Gerais, Paraná e Bahia. "Mais de 99% da nossa produção é de feijão macaçá", observa Gonzaga.
PESO NAS COMPRAS
No primeiro bimestre deste ano, o feijão carioquinha não foi o único que subiu de preço e pesou mais na hora de pagar as compras. Outros itens também registraram alta acima de 10% entre janeiro e fevereiro de 2012, de acordo com pesquisa de preços realizada pelo Procon Natal.
Depois do feijão, os maiores aumentos foram observados na cebola pera (+21%), laranja pera (+19,6%), ovos brancos grandes (16,4%), repolho branco (+15,2%), jerimum leite (+14,6%) e farinha de mandioca (+11,2%). Para Eugênio Medeiros, da Assurn, variações registradas nos hortifrutigranjeiros, como a cebola, por exemplo, não são tão graves. O preço costuma voltar ao normal em uma ou duas semanas.

fonte: tribunadonorte

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